terça-feira, 24 de junho de 2008

Os peixes e os homens têm muitos pontos em comum

Maria João Rocha, professora e investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental e da CESPU – Cooperativa do Ensino Superior Politécnico e Universitário, foi convidada pela pela editora norte-americana Science Publishers para conceber e editar um livro na área da Fisiologia da Reprodução Animal. «Fish Reproduction» é o título assinado por Maria João Rocha, como 1º editor e encontra-se disponível para venda em vários distribuidores internacionais.

No último Sábado (21/06/2008), a propósito da edição deste livro, a autora foi entrevistada pela revista "NS'". Nessa entrevista, esta autora refere que o peixe e o homem são muito parecidos em vários aspectos, e que as alterações climáticas e os efeitos provocados pelo homem no meio ambiente, já estão a trazer alterações nos peixes, sendo que estas alterações podem provocar efeitos no homem.
Aqui ficam algumas linhas desta entrevista.
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NS'-O livro fala especificamente sobre animais aquáticos?
Maria João Rocha (MJR)-Sempre trabalhei com animais aquáticos, nomeadamente com peixes. São animais que englobam um número variadíssimo de espécies - à volta de 28 mil -, o que significa que a quantidade de trabalhos que podem realizar-se é enorme. Na primeira parte do livro tentei focar a parte da reprodução dos animais nos seus habitats normais. Foi por isso que tentei contactar pessoas que trabalham com animais no Árctico ou em zonas tropicais. Procurei também animais que são pouco falados do ponto de vista da reprodução em termos de publicações, como tubarões e os cavalos-marinhos.

NS'-Existem ainda muitos lugares onde o habitat não tenha grande interferência humana?
MJR-Não muitos, infelizmente. Mas ainda existem alguns. Aproveitamos enquanto existem porque as mudanças climáticas e a diminuição dos stocks marinhos podem levar à extinção de espécies, e todos sabemos que o peixe como alimento é fundamental para o desenvolvimento do homem. O homem só é homem porque fez uma alimentação rica em peixe. Há estudos publicados a demonstrar que a presença do homem na Terra só foi possível devido ao consumo de peixe.

NS'-Na segunda parte do livro foram verificar o que se passa em ambientes poluídos?
MJR-Sim, fomos ver os efeitos do ambiente poluído nas espécies, Analisando quais os mecanismos por detrás da infertilidade dos animais e que efeitos pode isso ter para o homem. Porque o peixe e o homem poderecem seres muito distantes na escala animal mas, a nível celular e molecular, têm muitos pontos em comum. Como estamos no topo da cadeia alimentar e nos alimentamos desses animais que, não sendo doentes, não são saudáveis a cem por cento, esse problema vai ser transmitido para nós próprios.

NS'-Qual o grau de contaminação que estamos a falar? Em Portugal há motivos para nos preocuparmos?
MJR-Há sempre motivos para nos preocuparmos quando vemos os nossos rios e mares a serem poluídos. Não há é motivo para alarmismos, porque não temos ainda dados suficientes em Portugal para entrar por esse caminho. É conhecido que a ingestão de animais contaminados leva ao aumento da incidência do cancro da próstata e da infertilidade, isso são dados publicados internacionalmente em países muito grandes. Na China, por exemplo. Em portugal, as coisas são mais controladas, existem estações de tratamento, não há tantos esgotos lançados para o ambiente sem tratamento, além de que não estamos a falar de tantas pessoas...Porque quem polui são os seres humanos, que lançam para os rios e cursos de água tudo aquilo que ingerem...desde medicamentos, que depois são eliminados pelas fezes e urina, produtos industriais...tudo isso forma uma espécie de coktail poluente que pode ser prejudicial.

NS'-Quando compra peixe, fá-lo de maneira completamente diferente das outras pessoas?
MJR-Sim...Vejo os sítios de onde vem. Se é do Pacífico é melhor, porque à partida tem menos poluição.
NS'-Pode dar-nos algumas dicas?
MJR-O Atlântico Norte tem alguns possíveis problemas por causa das plataformas petrolíferas. Aqui a costa portuguesa, à partida, não tem problema nenhum. Procuro sempre ver se é de zonas que eu já sei que são mais problemáticas e fujo mais, mas se calhar é uma questão pessoal...
(...)"

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